Devido a toxicidade que vivemos no mundo. Com uma repressão sexual, muitas vezes até paradoxal sob meu ponto de vista, cada vez maior. Falta de educação sexual, compensada pela pornografia que começa a ser consumida cada vez mais cedo. Uma nudez ora símbolo de libertação e naturalidade ora alvo de críticas por ser “desnecessária” vemos distorções e violências sexuais cada vez mais frequentes. E quem leva a culpa? Não são os fatores acima, mas o pênis e todo o simbolismo que ele carrega. Ter um pênis significa ser um potencial abusador, mostrar o pênis pode simbolizar um perigo inato.
E, não me canso de repetir, paradoxalmente, a nudez frontal masculina que não seja genital, de performance, ereto, pornográfica, é rara. A nudez artística, sensual, com nossos genitais no estado onde eles permanecem a maior parte do tempo, servindo como qualquer parte do corpo, vulnerável ao ambiente e a conceituação, essa é rara. E quando existe, certamente não é associada a heterossexualidade. Um hétero posar nú? Sem que seja para mandar nudes nas mídias sociais? Ainda com sua “ferramenta”flácida? E que graça tem ver ela flácida? Quero ver ela dura, potente, penetrante.
Pois, de novo, paradoxalmente, o que nos violenta também nos excita. O que é tido como gracioso não é tido como sexual. Sexo deve ser perigoso, tenso, cheio de vergonhas, preocupações, julgamentos e culpas…senão não é gostoso. O melhor sexo é aquele selvagem depois de uma briga. Sexo de reconciliação dizem. Aquele em que você erotiza e descarrega sua raiva no outro até que toneladas de hormônios liberados depois do gozo te relaxem. O sexo, lento, com amor e presença? Esse não é tão gostoso.
O simbolismo do pênis é um complexo diagrama de paradoxos. E como isso influencia na visão de si e do corpo de quem nasceu com um?
O pênis como ferramenta
“Com nada os homens se identificam tão intimamente quanto com seu pênis e seu comportamento. É o orgulho ou a queda do homem, sua pertença ou não pertencimento ao grupo dos homens, sua conexão com o mundo das mulheres, seu passaporte e medida”.
Para muitos de nós, a sexualidade masculina ainda é um mapa com muitos pontos em branco que permanecem desconhecidos. Para o benefício de homens e mulheres, a aventura de descobrir a masculinidade pode começar.
Ao contrário do que as crenças sociais dizem, nós não costumamos lidar com nossos pênis com amor, gratidão e reverência. Em vez disso, os encaramos como simples ferramentas que nos levarão a um orgasmo, uma ejaculação…ou fornecer esses mesmos prazeres as nossas parcerias. Aliás, na maioria das vezes, quando nos tocamos é com essa intenção, obter uma ereção.
Quando se fala que vivemos em uma sociedade falocêntrica e que o pênis é um símbolo de opressão e poder temos que fazer uma correção, é o pênis ereto que é esse símbolo. É o que se espera de nós, é o que os filmes pornôs mostram. Se seu pênis não está ereto você é fraco, “impotente” como chamamos. Então, quem não apresenta seu falo ereto não tem potência, não expressa sua masculinidade plena.
Como a ereção é causada pelo sistema simpático não temos controle sobre ele. Ele pode ocorrer as situações mais inusitadas e não ocorrer nas ocasiões mais excitantes. E justamente por não termos controle o peso, cobrança e consequente auto-cobrança pela ereção é enorme e nos tira grande parcela da possibilidade de presença, intimidade e expressão sexual de forma mais plena afinal, sem uma ereção nada disso acaba sendo válido.
O pênis como vergonha e culpa
O pênis, ao contrário do que a cultura popular diz, para muitos é motivo de vergonha e culpa. Seja pela tendência a achar que “poderia ser maior” e ficarmos constantemente nos comparando com outros (geralmente atores pornôs) e crendo que se fosse maior nossas companhias afetivas/sexuais ficariam mais satisfeitas. De novo, o símbolo de poder não é o falo, mas sim o falo ereto, grande e grosso.
Em uma cultura esquizofrênica (e violenta) quando falamos de sexualidade, o pênis, por si só, também é símbolo de agressividade, coerção e visto como algo invasivo. Um homem nú é visto de maneira muito mais agressiva que uma mulher nua, independente de ter uma ereção ou não.
A mídia tem uma parcela de culpa nisso. Nas poucas ocasiões em que se apresente um nú frontal masculino em filmes são em situações sexuais (geralmente falos grandes mesmo flácidos, simbolizando potência e instigando o imaginário para como seria se ficasse duro). Nús frontais em filmes e séries são pautas para inúmeros artigos falando do tamanho do órgão sexual do ator em questão.
Ainda existem poucas produções que trazem o nú masculino de forma naturalizada, em situações cotidianas ou de vulnerabilidade, onde o genital não seria o foco, mas somente mais uma parte do corpo humano ( que é como deveria ser tratado).
A culpa pela ejaculação também aflige a muitas pessoas com pênis. Aprendemos a gozar não como ato de amor, mas como liberação emocional. É, para muitos, a única forma de relaxar, já que somos criados a reprimir e não expressar nossas emoções. Muitos de nós sofremos do que, na sexologia, se chama de “depressão pós-coito” onde, após a ejaculação, entramos numa crise de choro, culpa e depressão. Não é algo incomum infelizmente. E vem de encontro com as repressões e pesos que carregamos simplesmente por termos um pênis.
Como você chama o seu?
O português não tem uma palavra que transmita amor e reverência para nosso genital. Infelizmente nem pênis, pau, cacete, caralho, rola, pinto…pode refletir o significar que tal parte do corpo pode ter para quem o detém. É um dos maiores exemplos de que não temos um relacionamento consciente e amoroso com essa parte de nossos corpos.
No hindi, que deriva do sânscrito, língua sagrada em que os Tantras foram transcritos, temos a palavra “lingam”para se referir a todo o aparto sexual masculino. A palavra lingam refere-se ao núcleo mais íntimo da masculinidade. Significa “coluna de luz”, “parede de luz” ou “bastão de luz”. O taoísmo também utiliza termos como “vara de jade” e “espada de lótus”.
Na Índia, o lingam é reverenciado como uma expressão da clareza de Shiva, capaz de penetrar na névoa da ilusão – ideias e crenças falsas. O lingam simboliza a espada fina que diferencia entre o verdadeiro e o falso e entre nossa própria energia criativa e a energia da criação.
Não faz sentido para você? Que a mudança de percepção que você tem de seu pênis possa romper com muitas crenças falsas que faz com que diariamente você diminua e violente seu corpo, assim como o corpo de suas parcerias?
Lidando com o pênis de forma saudável
Hoje entendo que o lingam representa mais do que apenas superstição. É honrar a energia reprodutiva e criativa masculina, e também honrar a masculinidade. E isso de forma alguma é ser “falocêntrico”, mas sim amar uma parte de mim. Assim como para pessoas que tem vagina amar e reverenciar essa parte de seu corpo faz com que se ame e se empodere de seu corpo e sexualidade.
Essa mudança de relacionamento com meu lingam também encontrou sua expressão em minha sexualidade. Antigamente, quando eu acariciava meu lingam, fazia isso para satisfazer um desejo, ou para me “esvaziar” de tensões, angústias, ansiedade , não para “honrar” nada. Não vou falar que ainda não o faço, pois é um condicionamento profundo. Mas quando se tem consciência os padrões começam a se romper.
Era o mesmo quando eu acariciava uma vagina; a relação sexual ou o orgasmo da minha parceira eram meus objetivos. Agora estou, aos poucos, deixando de trabalhar em direção a esses objetivos e, em vez disso, toco meu lingam ou vagina para honrar o que significa ser cada um/uma. O que fazemos com nosso corpo é espelho do que buscamos no corpo do outro.
Para você que se relaciona de forma sexual com pessoas com pênis. Quando tocá-lo, lembre-se de toda a carga que ele carrega. Não o faça simplesmente para que se tenha uma ereção e possa penetrar. Isso é utilizá-lo como uma ferramenta, que é como ele sempre foi utilizado. E reflita, como você lida com seus genitais? Como interagem com eles? Da mesma maneira que o faz com o outro?
“Existem duas maneiras para o pênis ser excitado – através da emoção ou através do amor.” Hoje consigo começar a compreender plenamente o significado de sua mensagem em meu próprio corpo. É uma sensação maravilhosa para mim começar a ser despertado pelo amor e desfrutá-lo. Compartilho essa abordagem positiva de uma sexualidade plena com outros homens, mulheres e casais em minha prática terapêutica.
Eles param de reduzir o pênis a um “órgão de função” que deve ficar ereto e produzir orgasmos, e reconhecem que nossas interações com o lingam são mais do que apenas colocá-lo para cima, para dentro e para fora.
“Durante centenas de anos de influência da igreja e seus dogmas, a sexualidade foi desvalorizada, assim como as mulheres e seus poderes secretos. Isso tornou cada vez mais difícil para o poder feminino honrar o poder masculino e seu lingam. Os homens perderam a consciência do lingam como órgão do amor e começaram a usá-lo com uma fixação no objetivo pessoal de atingir o orgasmo. Esse foco limitado muitas vezes levava as mulheres a temer o lingam e as impedia de reconhecê-lo como uma parte enriquecedora de sua experiência sexual. Assim, o lingam raramente recebeu o amor que merece.”
Hoje entendo que o lingam representa mais do que apenas superstição. É honrar a energia reprodutiva e criativa masculina, e também honrar a masculinidade. E isso de forma alguma é ser “falocêntrico”, mas sim amar uma parte de mim. Assim como para pessoas que tem vagina amar e reverenciar essa parte de seu corpo faz com que se ame e se empodere de seu corpo e sexualidade.
Essa mudança de relacionamento com meu lingam também encontrou sua expressão em minha sexualidade. Antigamente, quando eu acariciava meu lingam, fazia isso para satisfazer um desejo, ou para me “esvaziar” de tensões, angústias, ansiedade , não para “honrar” nada. Não vou falar que ainda não o faço, pois é um condicionamento profundo. Mas quando se tem consciência os padrões começam a se romper.
Era o mesmo quando eu acariciava uma vagina; a relação sexual ou o orgasmo da minha parceira eram meus objetivos. Agora estou, aos poucos, deixando de trabalhar em direção a esses objetivos e, em vez disso, toco meu lingam ou vagina para honrar o que significa ser cada um/uma. O que fazemos com nosso corpo é espelho do que buscamos no corpo do outro.
Para você que se relaciona de forma sexual com pessoas com pênis. Quando tocá-lo, lembre-se de toda a carga que ele carrega. Não o faça simplesmente para que se tenha uma ereção e possa penetrar. Isso é utilizá-lo como uma ferramenta, que é como ele sempre foi utilizado. E reflita, como você lida com seus genitais? Como interagem com eles? Da mesma maneira que o faz com o outro?
“Existem duas maneiras para o pênis ser excitado – através da emoção ou através do amor.” Hoje consigo começar a compreender plenamente o significado de sua mensagem em meu próprio corpo. É uma sensação maravilhosa para mim começar a ser despertado pelo amor e desfrutá-lo. Compartilho essa abordagem positiva de uma sexualidade plena com outros homens, mulheres e casais em minha prática terapêutica.
Eles param de reduzir o pênis a um “órgão de função” que deve ficar ereto e produzir orgasmos, e reconhecem que nossas interações com o lingam são mais do que apenas colocá-lo para cima, para dentro e para fora.
“Durante centenas de anos de influência da igreja e seus dogmas, a sexualidade foi desvalorizada, assim como as mulheres e seus poderes secretos. Isso tornou cada vez mais difícil para o poder feminino honrar o poder masculino e seu lingam. Os homens perderam a consciência do lingam como órgão do amor e começaram a usá-lo com uma fixação no objetivo pessoal de atingir o orgasmo. Esse foco limitado muitas vezes levava as mulheres a temer o lingam e as impedia de reconhecê-lo como uma parte enriquecedora de sua experiência sexual. Assim, o lingam raramente recebeu o amor que merece.”
Nutrir a sexualidade requer segurança, aceitação, compreensão e amor. Isso vale tanto para os homens quanto para as mulheres.
Assim como as mulheres, os homens precisam de um ambiente encorajador para desenvolver sua sexualidade. Isso inclui não apenas as condições externas, mas também um parceiro relaxado e receptivo – que não precisa ser “perfeito”, mas sim amoroso e empático. Compreender a sexualidade é necessariamente um processo, não um evento. A descoberta e aceitação da força sexual masculina é independente da potência ou da ereção.
Assim como as mulheres, os homens precisam de um ambiente encorajador para desenvolver sua sexualidade. Isso inclui não apenas as condições externas, mas também um parceiro relaxado e receptivo – que não precisa ser “perfeito”, mas sim amoroso e empático. Compreender a sexualidade é necessariamente um processo, não um evento. A descoberta e aceitação da força sexual masculina é independente da potência ou da ereção.
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